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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Fazenda Sete Pastores - Bairro da Conceição

"Comprei a Fazenda em 1951, e em 1954 , no inverno , por 5 dias seguidos a temperatura registrou -5 C. , de dia e noite . Tínhamos uns 40 pés de abacateiro plantados , morreu tudo com a geada . Hoje em dia não faz mais frio como antigamente " . 
Família Cseri , moradores simpáticos no Bairro da Conceição.
É  com essas palavras que presenciamos , o relato do Sr. Alexander Cseri  , alemão radicado no Brasil , à décadas  e chefe familiar da Fazenda Sete Pastores , localizada no Br. da Conceição , onde fiz uma visita pelas matas ciliares preservadas desta região de Itapetininga .


Na propriedade rural , já foi criado ovelhas para dar sustento ao ateliê , que a família explora à vários anos , sendo referência no artesanato local de tapetes de lã de carneiro , feitos em processo totalmente artesanal.
Mata ciliar e suas trilhas .
Seu Alexander, de origem européia , como todo estrangeiro , preservou a mata nativa local , sendo surpresa para mim o número de espécies arbóreas e herbáceas de nosso bioma .Notei que seus filhos , seguem o mesmo caminho , e são detentores de um complexo de banco genético de nossa flora .
Eram 3 horas da tarde de domingo , e excursionamos pelas matas , transição de cerrado com mata atlântica que é característico da região de Itapetininga .
De cara nos foi mostrado uma árvore , que é senão uma das mais úteis em nossa farmacopéia , o GUAÇATONGA (Casearia sylvestris), planta esta conhecida em nossa região por "chá de Bugre " , "pau de Bugre" , "erva de lagarto " , etc. Essa planta foi muito utilizada pelos índios antigamente e  hoje é usada na medicina para curar herpes labial ,e problemas dermatológicos , estomacais , etc , além de um otimo poder cicatrizante , sendo uma das poucas plantas antiofídica , isto é , bom para curar picadas de cobra
Guaçatonga com dez anos de idade .


As folhas da Guaçatonga tem alto poder curativo e a planta é encontrada
aos montes nos campos naturais e matas ciliares de Itapetininga


O Cambuí é facilmente identificado na mata por seu caule descamado.
Prossegui então por excursão , agora dentro da mata ciliar preservada dentro da propriedade , e deparei com uma árvore rara na região , o CAMBUÍ , espécie que deu nome a um bairro da cidade de São Paulo . O Cambuí é uma espécie belíssima da grande família das mirtáceas, cujos parentes mais conhecidos são a goiabeira, a jabuticabeira, a pitangueira e o eucalipto tinhoso. Aqui no meio da mata , ela parece estar descamando , e é facilmente identificado no mato, por esta característica.
Cambuí com 5 metros de altura , dentro da mata , inconfundível.
O Cambuí costuma recompensar os longos anos de crescimento cobrindo-se de flores brancas muito miudas. Neste período de novembro e dezembro ou até um pouco mais tarde de acordo com a região, sua presença pode ser sentida à distância pelo intenso perfume que exala, muito atraente às abelhas.

Em janeiro, o Cambuí ganha um novo colorido proporcionando pelos milhares de frutos vermelhos, quase roxos, que é uma festa para os olhos, o paladar e para o olfato e para os pássaros, que festejam a farta alimentação com entusiasmada cantoria.Sua madeira é tão dura que costuma ser utilizada em cabos de martelo, caibros de

barracões e em muitos instrumentos agrícolas, As crianças colhem suas forquilhas para fazer estilingues. As mulheres transformam as espessas ramagens em excelentes vassouras para áreas de terra. Os carros-de-boi com eixo feitos a partir do tronco da árvore cambuí eram os que produziam o choro mais melodioso e bonito aos ouvidos.É uma árvore extremamente ornamental. Seu tronco decorativo presta-se bem para o paisagismo, especialmente em arborização de ruas estreitas e sob redes elétricas.


Aroeira -Pimenteira, frutos vermelho intenso.
Outra árvore vista no local , já saindo da mata é a AROEIRA PIMENTEIRA (Schinus terebinthifolia), que é nada menos uma das principais plantas que serve de alimento para a nossa avifauna. Planta pioneira, comum em beira de rios, córregos e várzeas, entretanto cresce também em terrenos secos e pobres.
Os frutos são drupas globosas de coloração vermelho-brilhante e utilizados na culinária como condimento.É a nossa pimenta brasileira, muito valorizada na França , onde os chefs de cozinha usam para apimentar seus pratos .
Não resiste e fui esperimentar o sabor ,apimentado e doce
da "Pimenta brasileira".
Tem propriedades medicinais pois é Anti-diarréica, antileucorréica, adstringente, balsâmica, diurética, emenagoga, purgativa, estomáquica, tônica, vulnerária, antiinflamatória, fungicida e bactericida.
De porte pequeno, é indicada para a arborização de ruas estreitas
e sob fios elétricos., 
É útil nos reflorestamentos heterogêneos destinados à recomposição de áreas degradadas de preservação permanente.Em nossa região é francamente encontrada em matas secundárias .Entretanto, pode causar alergia à pessoas sensíveis que entram em contato com suas folhas e até passam debaixo dela.


Esta "mamica" deve ter 15 m de altura.
Todo mundo já ouviu dizer aquele ditado de que focinho de porco não é tomada.Mas você aposto que nunca  viu uma árvore com o nome de MAMICA DE PORCA (Zanthoxylum rhoifolium)  , é essa árvore alta que encontramos na volta à trilha dentro da mata. Esta árvore de 2 a 20 m de altura tem o tronco revestido por acúleos ( espinhos) , de base arredondada e achatada em plantas adultas, com casca quase lisa, na cor grisácea até marrom escura, que descama-se  nas árvores velhas. 
Tem suas flores e frutos em cachos e pequenos ( 3 mm) redondos, que maduros ficam escuros e se abrem exibindo uma semente vermelha. Espécie pioneira. Ocorre em todo o Brasil, nas formações florestais do complexo atlântico , destacando-se nas formações campestres de Santa Catarina e Rio Grande do Sul .

Veja o espinho que dá  nome a árvore.

USOS POPULARES
A casca tem sabor amargo, possui propriedades de ser tônica e excitante. É aromática e contém "xantophicrita", que é uma substância amarga cristalina, a qual se atribuem virtudes medicinais reconhecidas a planta como oftálmica e útil contra o corrimento dos ouvidos e dor de dente. As mesmas propriedades são atribuídas ao suco das folhas e a raiz, que a pó é útil contra mordidas de cobras. De boa adaptação , pode ser usada em reflorestamentos. Um pouco evitada por causa dos espinhos agudos e perigosos.


Cedro com 15 m de altura
Cheguei agora numa das varias espécies da árvore de destaque da propriedade , o CEDRO ROSA (Cedrela fissilis). Esta árvore imponente na mata é uma das vedetes do local e foi quase que totalmente dizimada em nossa região , restando poucos exemplares em nossas matas. O cedro é uma espécie rara, que ocorre em diversas formações florestais brasileiras e praticamente em toda América tropical. Essa árvore frondosa produz uma das madeiras mais apreciadas no comércio, tanto brasileiro quanto internacional, por ter coloração semelhante ao mogno e, entre as madeiras leves, é uma das que possibilita o uso mais diversificado, sendo superada apenas pela madeira do pinheiro-do-paraná .O cedro é uma espécie que se comporta como secundária inicial ou secundária tardia. Ocorre tanto na floresta primária, principalmente nas bordas da mata ou clareiras, como na floresta secundária, porém nunca em formações puras, possivelmente pelos ataques severos da broca-do-cedro e pela necessidade de luz para desenvolver-se, dependendo, portanto, da formação de clareiras.

As principais regiões fitoecológicas de ocorrência do CEDRO ROSA , são Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica e Floresta Amazônica), Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária), Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Estacional Decidual. Entretanto, também ocorre, de modo mais restrito, nos encraves de vegetação no Nordeste brasileiro (Ferreira & Batista, 1990), nos campos da Serra da Mantiqueira (Carvalho, 1994), no Cerradão (Nave et al., 1997) e nas matas de galerias - em ambientes mais secos – nessas fitofisionomias do bioma Cerrado.

Flores secas do Cedro na Serapilheira da floresta
O CEDRO ROSA , tem altura entre 10 e 25 m , e suas flores , pequenas , são brancas, com tons levemente esverdeados e ápice rosado.Por ser suscetíveis a "broca do cedro" , não é aconselhável para a silvicultura. Por ser uma espécie ornamental, também pode ser empregada em projetos paisagísticos e arborização urbana.



Sai do meio do mato , e caminhei de volta pela estrada que dá acesso a propriedade , e entrei numa picada que junto com um filete de agua , serpenteia uma região de Samambaias e pteridófitas.

Ao longo desta picada , dos dois lados , vê-se a vedete da trilha , e que em nossa flora está em risco de extinção .
Eis que surge , a SAMAMBAIAÇU OU XAXIM (Dicksonia selowiana) como é chamada. Ela é uma das espécies vegetais mais antigas e contemporânea dos dinossauros, de cujo tronco se extrai o xaxim - a matéria-prima para a fabricação de vasos e substratos. Planta típica da Mata Atlântica, esta samambaiaçu está na lista oficial das espécies brasileiras ameaçadas de extinção (Ibama), em razão da sua intensa exploração comercial destinada à jardinagem e floricultura.É uma planta de tronco fibroso e espesso, suas folhas são bastante grandes e surgem no topo do tronco, diferentemente das outras samambaias. É resistente ao frio e apresenta crescimento muito lento, no entanto, é uma planta grande, chegando a 4 metros de altura. Devido ao seu diferencial, sua utilização no paisagismo é muito interessante. Além de sua beleza singular, serve de suporte e substrato para as mais diversas plantas epífitas, como orquídeas, bromélias e outras samambaias.
Samambaiaçu
No jardim, deve ser cultivado sempre à meia sombra ou sombra, gosta de terrenos baixos com solo rico em matéria orgânica, mantido úmido. Devido ao risco de sua extinção, deve ser utilizada racionalmente e suas mudas devem sempre ser originárias de plantas cultivadas e não das extraídas do ambiente natural. Aprecia o clima ameno. Multiplica-se por esporos e através da separação dos brotos com um parte do caule.

4 m de altura
Hoje, existem no mercado produtos alternativos que substituem o xaxim, como vasos fabricados a partir da fibra do coco e também substratos como palha de coco, ardósia e carvão. Ao optar por estes produtos estamos ajudando a preservar a existência da Dicksonia selowiana nas matas.

Em Itapetininga , ela é encontrada em sitios e fazendas que preservaram a mata ciliar em lugares bastante úmidos e que não foram alvos de extrativismo para arrancar o xaxim .

Vocês já ouviram falar que árvores são essenciais para a qualidade de vida em nossas cidades , árvores além de contribuir com o barramento da ação do efeito estufa, são barreiras naturais de poluição acústica , física , etc. Elas quebram os ventos gelados que vem do sul e repelem doenças que porventura venham ser trazidas pelo vento . O que pouca gente sabe é que elas indicam tambem a qualidade do ar que está presente.
Liquens, indicação de boa
qualidade do ar. 

Por exemplo uma arvore sadia e com liquens na sua "casca" , indica uma boa qualidade do ar . Nessa propriedade visitada por estar distante de Itapetininga em 21 km , vê-se que a qualidade do ar é excelente , isto por apresentar algumas arvores o liquem . Coisa que não vejo no Centro da cidade e avistei só na Mata Atlântica em Unidades de Conservação .













Lingua de Tucano , espécie rara
encontrada por aqui .
Prosseguindo entrei na estradinha que dá acesso a fazenda , e deparei com uma espécie que hoje está quase extinta na cidade de São Paulo e por aqui parece resistir em zonas de transição de Mata Atlantica e Cerrado .Descrito por botânicos que passaram por São Paulo , antigamente , encontrei  a  lingua de tucano (Eryngium campestre). Esta espécie , que mais parece uma bromélia , mas não é da familia desta ,  tem uso medicinal e deve ser consumida sob orientação de um profissional , pois mostra altas propriedades diuréticas. Seu uso é limitado ao que resulta do seu poderoso diurético e também como um limpador para o que é usado nos distúrbios genito como cisitits, litíase urinária, oligúria, e também na retenção de líquidos, obesidade, gota, hipertensão, etc. A "língua de tucano' , está na lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção no Estado de São Paulo , e encontrada ali aos montes revela que nossa região tem um potencial de banco genético imenso . Na cidade de São Paulo , no blog "árvores de São Paulo " , há a descrição pormenorizada dela e a importância para a cidade de São Paulo desta e outras espécies vegetais.Sem dúvida uma descoberta rara na propriedade dos Cseri.

5 comentários:

  1. Luis Flávio, PARABÉNS!!! Adorei tudo..e aprendi muito..Sempre fico muito feliz qdo vejo iniciativas como a sua! Muito bom conhecer seu Blog.
    Abs, Paulo Mollinedo
    MSN: Paulo Mollinedo
    Facebook: Paulo Mollinedo
    www.pauloxmollinedo.xpg.com.br

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  2. Parabens,pela iniciativa de divulgar a beleza desta região,fico feliz em ver que o SR.Alexandre,Dona Carla e seus filhos continuam firme no proposito de preservar,quanto a mim matei a saudade pois na minha infância fiz este percuso muitas vezes com o Alexandre filho do casal.Mario Jorge

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  3. Olá, sou estudante de engenharia florestal e sou natural de Itapetininga.
    Gostei muito do texto que escreveu. Também desejo ver nossa vegetação preservada.
    Tenho um blog também: plantandovida.wordpress.com
    Vamos manter contato.

    Abraço

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  4. Estava fazendo uma pesquisa sobre as festas do folclore em Itapetininga na década de 60 no acervo do "Estadão" e encontrei a família Cseri que lá expunha seus tapetes de lã. Fiquei ultra feliz em ver o seu blog e mais ainda ao saber que o casal continua vivo. Tomei a liberdade de transferir alguma coisa sobre eles do seu blog para o meu.
    Achei maravilhoso o título que você deu para o seu sítio.
    Sensacional o seu propósito.

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  5. Olá Luis, como faço para entrar em contato com você? Obrigado!

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